Holmes & Watson e suas mil faces.
Odeio comparações. Ainda mais sem fundamento. Antes de ‘Elementary’ estrear foi um bla bla bla desnecessário sobre como estavam tentando imitar – e ir na onda – do sucesso britânico de ‘Sherlock’, que a série seria uma cópia escrota, mal feita, com um elenco ruim, um Watson mulher – como assim? Que absurdo! Cadê os direitos do Watson, gente? – e que ia ser cancelada em menos de 06 episódios. Então, gente, se você que está lendo essa resenha pertence a esse grupo, caí fora daqui já! É uma cilada!
Eu sou completamente CONTRA pessoas que falam sem assistir/ouvir/ler - e ter provas de seus argumentos. Por favor! Não existe APENAS UM Sherlock Holmes. Sherlock literário, obviamente, será eternamente o original, mas Holmes e co. são de domínio público, logo quem pegar esse material e desejar adaptar como um musical, comédia romântica, série sobrenatural, pode e se for bem produzido, roteirizado e dirigido, SIM, eu digo ‘sim’, pode ser uma boa empreitada. É de domínio público, logo Joaquin e Pedrinho podem fazer o que quiser com a história, agora cabe a você, leitor, ouvinte e telespectador usufruir dessa nova versão e considerar se para você é bom ou não.
Para mim, colocar Watson no corpo de uma mulher foi um risco que deu certo, lançar uma série com produção americana quando na Inglaterra um dos maiores sucessos da televisão continua no ar – e aumentando cada vez mais seu público – deu certo. Eu estou apenas no primeiro episódio, não ouso se quer comparar ‘Elementary’ com ‘Sherlock’ são mundos COMPLETAMENTE diferentes, e é isso que torna ‘Elementary’ especial, ela não quer o sucesso de ‘Sherlock’, ela quer o próprio sucesso.
Eu, nessa discussão, pertencia ao grupo – pequeno e introspectivo - que não comentou nada, pois não tinha o que ser dito sem fatos, ou seja, sem episódio lançado. Não tive interesse – nem tempo – de ver a série, logo ela estreou, conseguiu uma segunda temporada, está bem, com um público fiel, obrigada.
Os caminhos da madrugada me levaram a um episódio qualquer da Season 01 de ‘Elementary’ e fiquei curiosa. Assisti outro, outro e mais outro e vi que havia potencial na série, que eu poderia gostar e que deveria dar uma chance. Além do mais, sou fã do Jonny Lee Miller, Lucy Liu e Aidan Quinn, então porque não tentar? Com esse pensamento coloquei ‘Elementary’ na minha lista de Maratonas 2014 e aqui vos apresento a minha opinião sobre o piloto.
Surpreendentemente ótimo.
O episódio piloto começa com movimento, apresentando o 1º caso da série, uma mulher ruiva sendo atacada, aparentemente dentro de sua casa, numa seqüência muito bem filmada com feitos detalhados dos golpes, objetos espatifando, gritos, pistas sendo deixadas pelo caminho e o corte, indo direto a Joan Watson, em sua vida diária.
Estamos em Nova York.
De repente, Joan recebe uma ligação, não demora nem 5 minutos de série e somos apresentados a Holmes numa cena pouco convencional, engraçada e que mostrou logo de cara que Jonny e Lucy conseguiram desenvolver uma química interessante.
Holmes aqui é britânico – também -, um viciado, tatuado, cheio de manias, que precisa de uma ‘companion’ (Joan Watson) para vigiar seus passos para mantê-lo afastado dos problemas. Eles se conhecem, aparentemente ela o acompanha a um certo tempo, o que já nos apresenta uma certa intimidade à dupla, o que é bom. Ela foi contratada pelo pai de Holmes, um homem importante de acordo com o detetive,
Aqui, Joan é uma ex cirurgia, nada de ferimentos de guerra ou bengala – por enquanto. Apenas ao fim do episódio a discussão sobre ser ex-cirurgia, ganha força e chega em seu ápice, pois do inicio ao fim temos a imagem de uma Watson que nega ser médica e afirma ser uma ‘companion’ de um homem bem atípico.
Nesse episódio ainda temos a figura do Capitão Thomas Gregson (Aidan Quinn). Nesse piloto ele não ganhou tanta atenção, mas acredito que no futuro isso irá mudar. Aqui ele serve mais como um intermédio entre Holmes e o caso a ser solucionado, ele mostra ter confiança no detetive, conhecedor de suas manias atípicas e principalmente acredita em suas análises. Nesse primeiro momento, sua presença foi apenas como secundário, mas foi importante para determinar a posição dele como capitão e de Holmes, como detetive.
Sim, o Sherlock americano, pelo menos no primeiro episódio, não é tão atípico quanto o britânico, mas gostei muito de sua apresentação, como na de Joan. Sério, se essa química continuar durante toda a Season 01, definitivamente, me tornarei uma seguidora fiel da série.
Me apaixonei com como Jonny controlou suas emoções dando a Holmes um ar taciturno, frívolo e meio robótico. E o que falar de Joan? A cética, controlada, porém irônica ex cirurgia que tenta manter Holmes por perto, mas ao mesmo tempo, solta um pouco as amarras, pois sabe que ele é uma besta que não pode ser contida?
Outro detalhe que achei bem interessante nesse Piloto: na cena inicial, Holmes comenta que acha sexo repugnante, para alguns, isso pode ser sarcasmo, mas para quem sabe, Sherlock é assexuado. É tão perigoso trabalhar com um personagem que é diferente, ainda mais quando mexe com algo que promete ao público que eles não terão algo que sempre pedem: romance.
Hoje em dia vivemos em uma geração na qual filmes e séries de todos os gêneros TEM romance. Precisa ter pelo menos um casalzinho para aquele grupo mais jovem e romântico poder suspirar. Não concorda? Vamos ver o caso recente da trilogia de Tolkien: ‘O Hobbit’. Foi incluída a personagem Tauriel, interpretada por Evangeline Lily, de acordo com Peter Jackson, ele acreditava que essa trilogia estava necessitando de uma figura feminina forte e determinada que pudesse servir de exemplo para as jovens da atualidade. E é claro, ela ganhou dois interesses românticos: Legolas, filho do rei Thradueil (Orlando Bloom retorna para interpretar o personagem que nem em Hobbit aparece) e o anão, logo um amor proibido, Kili (interpretado por Aidan Turner). Concordo com Peter, a trilogia precisava de uma figura feminina, mas do romance? Não. Porque ele optou por colocar romance? Porque todos amam romance e querem suspirar por um casal impossível. Isso vende ingresso, isso atrai público, isso faz fanfiction.
Voltando a ‘Elementary’, no momento que Sherlock diz que acha sexo repugnante e que apenas supri uma necessidade de seu corpo, ele deixa bem claro que não sente atração de espécie alguma. É assexuado. O que não invalida um possível romance, os fãs vem coisas que nem os roteiristas sonham em existir, mas o ponto é que, gostei do risco jogado aqui. Acredito que essa seja uma das características mais interessantes de Holmes – no geral -, sua falta de interesse em relacionamentos o torna um homem à parte do mundo, e o roteiro já jogar isso em nossa cara logo no primeiro episódio foi um outro risco bem bolado e – ouso dizer – respeitador ao personagem de Doyle.
O episódio terminou sem deixar pontas, mostrando uma amizade entre Holmes e Watson, mas sabe, fiquei com vontade de mais. Adoro quando as séries me deixam assim.
Até a próxima review dessa maratona que promete, mates.
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Autora indie, publicada na Amazon/Kobo, professora, poliglota, tradutora, Companion, Sonserina, Hobbit, Targaryen e casada com Darcy & Thorin. Bang, that's me. Siga me, eu não mordo @MsBarbieHerdy |